Caminhada

Por mais que tentemos mentir para nós mesmos, no fundo todos estão nesta busca do amor, atrás de uma grande emoção para se ao menos tentar compreender a razão da vida, com suas inevitáveis durezas. A propósito, durezas estas que não escapam dos relacionamentos - aquelas bobagens de contos de fadas existe, mas é um conto, uma lenda - inventadas por uma humanidade que refuta a aceitar viver feliz apesar da infelicidade.

Aceitem, vai ser mais fácil quando perceberem que sua família terá problemas e uma vez sanados, serão problemas no teu trabalho, e talvez depois com sua saúde e por aí vai. Pra mim essa é a grande mística da vida - o caos e o equilíbrio. A gente bem pensa que está dando conta do recado e de repente um novo desafio, uma lição para nos treinar diante de mais essa adversidade. Pra isso, temos que contar com a força do pensamento, aquela força que vem da nossa voz interior. Essa tal força, tão indomável para a maioria, muitas vezes dizendo o que bem quer, sem o nosso controle. Embora a maioria queira bem para si próprio, há momentos difíceis nos quais sentimos um desestímulo tremendo em continuar a acreditar. Não dá mais para aguentar tudo, se dar aquele apoio, a voz interior se cala e nosso ânimo junto.

Nessa hora vem nosso companheiro, companheira, para lembrar-nos quem somos, do que somos capazes. Talvez por isso que exista aquele velho ditado: "por detrás de um homem, exista uma grande mulher". Quando pequena ouvi dizer uma vez que a mulher tinha o poder de elevar um homem no seu máximo, como também de reduzí-lo a nada. Obviamente, vale muito o contrário, do homem para mulher também. A grande questão que me põe a refletir é a vida ser essa fascinação de interpéries, derrotas, soluços e murmurinhos de prazer. Manter-se firme, com esperanças e tudo contando apenas com a boa vontade do seu eu pode no final exigir uma extra força. Nessa tentativa solitária, acabamos, na minha opinião, por construir estruturas de suporte - e no final, construímos, talvez pelas decepções, ferramentas de defesa; muros, crenças errôneas, amarguras e nossa, quanta desilusão!

Será esse o grande motivo da incessante busca, dentro de cada um de nós, por alguém para amarmos? Não me entedam mal se passo a impressão que jogamos para um outro a nossa responsabilidade de crermos em nós mesmo. Não é isso. Longe disso. Caminhar juntos não é um carregar o outro no colo pois se tornaria logo uma tarefa estafante, fácil de se abandonar. Mãos dadas soa melhor como um apoio seguro, fácil e leve. Uma hora você sabe que na estrada chegarão as dificuldades, e tanto um quanto o outro poderão vir a se ferir numa ponte, pisar em algum espinho e será a hora de carregar no colo por algum momento até conseguirem seguir de mãos dadas. Ainda usando esta analogia, caminhar sozinho pode se tornar tão difícil e fácil de se machucar quanto esperar que a estrada caminhando juntos seja sempre um reto, plano e com fundos paradisíacos.

E para finalizar podemos discorrer com essa boba história de caminhos sobre aquele jargão que melhor é quando pessoas completas que se juntam e não pessoas que se juntam para se completar. Posso caminhar só e você também. Isso não nos torna auto-suficientes, apesar de independentes. Decidimos apreciar a caminhada juntos, sofrer os problemas que sofreríamos sozinhos por crer um no outro, sem depender do outro e sim contar com ele.

Sei que escrevendo concluí que a busca incessante não pode ser alguém. Pois se achamos esse alguém, não há mais busca, afinal o encontramos e vamos esperar que ele nos recompense por gastarmos tanto esforço e expectativa na procura desse encontro. Contudo, se o que buscamos é trilhar a vida, é ter uma meta, com firmeza, seguindo em frente - ao encontramos aquele alguém, não será o fim em si. Ainda temos o objetivo, só que agora é em comum. É isso. Quando escrevi no começo que apesar de mentirmos, todos estamos na busca do amor, na verdade mentimos mesmo. Buscamos o amor para dar continuidade para a buscar maior. A vida de fato, é uma engraçada fascinação...

(Cristina Rafaela)